OS ESPORTES A SERVIÇO DA POLÍTICA

Esporte e política, sim, se misturam.

Veremos como os esportes se tornaram importante ferramenta política na Europa durante os anos que precederam a Segunda Guerra Mundial.

Ainda essa semana, subirei um post sobre o futebol durante o regime militar brasileiro. 

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Recentemente, um jogador sérvio foi expulso de campo pelo técnico de sua seleção, pois se recusou a cantar o hino antes de um amistoso contra a Espanha. O jogador alegou questões pessoais, já que ele é de origem islâmica, religião que sofre repressão numa Sérvia de maioria católica ortodoxa.

Usei esse exemplo atual para justificar a afirmativa acima. O recusa do jogador deve-se muito mais a questões políticas do que pessoais.

Com a socialização e o desenvolvimento dos povos, o esporte surgiu como um fenômeno social de aglutinação das massas que, não raramente, se torna um importante instrumento de divulgação política.

Para ilustrar isso, peguemos a Itália fascista como exemplo.

Na Europa totalitária, o futebol se tornou uma forma de propaganda do regime fascista de Mussolini, que explorou politicamente o fato de a Itália ter sido duas vezes consecutivas campeã mundial (em 1934, jogando em casa; e em 1938, na França). Mussolini chegara a indicar os árbitros que apitariam as partidas  das quais participaria a seleção italiana. Outro exemplo da sua influência foi o fato de a Itália ter jogado de uniforme preto, numa forte alusão aos destacamentos militares fascistas (Fascio di combatimento), também conhecidos como "camisas-negras". 

A Copa da Itália, de 1934, foi um evento tão político quanto os Jogos Olímpicos realizados dois anos mais tarde em Berlim. 

Ainda na Copa de 1934, o jogo que decidiu o terceiro colocado foi disputado por Alemanha e Áustria. A Alemanha nazista ganhou por 3x2 do time da terra natal de Hitler, o que também gerou especulações a respeito da manipulação do resultado, já que Hitler era aliado de Mussolini.

Na Copa do ano seguinte, em 1938, a Espanha (que mandara o Brasil pra casa em 1934) foi o primeiro caso de um país que não participava dos jogos por conta de um conflito armado: a Guerra Civil Espanhola, que determinou a queda do governo de caráter socialista democraticamente eleito e a imposição de um governo-tampão (que servia para evitar que setores simpáticos às classes populares voltassem ao poder e que garantia a influência do fascismo na península ibérica) , representado pela figura do general Franco.




A seleção para a Copa de 1938 tem um caso curioso. A Áustria ia bem, mas, como fora anexada ao Terceiro Reich por Hitler, não compareceu ao jogo classificatório contra a Suécia.  Foi a seleção sueca, então, que foi classificada, já que teria vencido a partida por W/O. Justamente por isso, havia muitos jogadores da Alemanha que eram austríacos de nascimento e participaram dos jogos vestindo uma camisa que trazia a estampa de uma águia e da suástica nazista.

Um jogador, Matthias Sindelar, se recusou a jogar com esse traje, por ser contra a invasão da Alemanha a seu país. Dias depois, foi encontrado morto no quarto do hotel com sua namorada ao lado. Suspeita-se que a autoria do crime seja da Gestapo (polícia secreta nazista).

Matthias Sindelar


A Copa de 1938 foi vencida pela Itália numa final contra a Hungria, e diz-se que Mussolini enviava telegramas à concentração, que diziam: "Vencer ou morrer!" (slogan da propaganda fascista).

O goleiro húngaro disse que, tomando 4 gols (a partida terminou em 4x2 para a Itália), tinha poupado a vida dos jogadores italianos... Triste.

Com a eclosão da Segunda Guerra, as Copas de 1942 e de 1946 não aconteceram (a guerra terminou em 1945, mas, um ano depois, a Europa ainda estava em reconstrução). Apesar disso, em evento sinistro e heroico ocorreu no mundo do esporte: o caso do Dínamo de Kiev.

A Ucrânia teve a infelicidade de sofrer a opressão de dois regimes autoritários: em 1922, foi incorporada pela União Soviética, conhecendo os horrores da ditadura stalinista; e, em 1941, com o rompimento do Pacto Ribbentropp-Molotov (de não agressão entre URSS e Alemanha nazista durante dez anos), foi invadida pelas tropas alemães, sendo alvo da agressividade nazista.

Os ucranianos julgavam que, tendo eles um passado sob a ditadura stalinista, poderiam superar qualquer coisa, mas estavam enganados, já que a maior parte da população do país sofreu perseguições e foi mandada para os campos de trabalho forçado.

Um dos maiores times da Ucrânia era o Dínamo de Kiev (formado por funcionários de uma padaria) que, depois da ocupação nazista, mudou seu nome para F. C. Start. Para forjar uma aparência de normalidade e conquistar apoio da população ucraniana, o governo nazista permitiu que um campeonato de futebol fosse realizado.



O Dínamo, rebatizado de Start, venceu todas as partidas do campeonato contra times da própria Ucrânia ou de países invadidos, o que não chamou atenção dos nazistas. Até que jogou contra o time formado por oficiais alemães: o PGS e o time da Luftwaffe (força aérea nazista).

O Start venceu do primeiro por 6x0 e do último por 5x1, e os alemães não quiseram acreditar.

Poucos dias depois, os jogadores foram presos pela Gestapo, sob o  pretexto de que faziam parte da NKVD, polícia secreta soviética. E faziam mesmo, mas isso não passava de mera formalidade  que os permitia jogar futebol antes da ocupação nazista.

Após o término da guerra, o Start voltou a se chamar Dínamo, e uma estátua foi erguida em homenagem a quatro jogadores que foram mortos pelos nazistas.

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Abaixo, algumas sugestões para saber mais sobre o tema (vídeos e livros). Pena que esse documentário da BBC está sem legenda... 



























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